Minha família não aceita o caminho que escolhi, e agora? Conhece essa situação?

por Bia F. Carunchio

Este texto surgiu de uma conversa entre amigas. Conversa vai, conversa vem, Rosea Bellator me contou quantas mensagens recebe de pessoas que estão no caminho da Wicca e da Bruxaria e têm conflitos com os pais e a família por conta disso. Sugeri um texto sobre o tema. E ela sugeriu que eu é quem deveria escrevê-lo. Portanto cá estou.

família

Tenha sempre autocontrole e respeito, essas são as palavras chaves. Foto: Rosea Bellator

Sei que existem pessoas intolerantes, que antes mesmo de saber do que se está falando já começa com preconceitos e ideias estereotipadas, já se aproximam com pedras nas mãos. E, vou dizer, isso não acontece apenas na bruxaria. Nem apenas nas religiões e/ou caminhos espirituais. No meu trabalho como psicóloga vejo isso acontecer também no campo da sexualidade, da escolha profissional, dos relacionamentos… Acontece sempre que fazemos uma escolha importante na nossa vida, em especial quando escolhemos um caminho pouco usual. Porque ao escolher um caminho (seja ele qual for), estamos “não escolhendo” todos os outros, e as diferenças podem gerar conflitos para pessoas pouco seguras de si, que se sentem ameaçadas pelo diferente, mesmo quando não há motivos para isso. Como lidar com o preconceito que vem da família e dos amigos próximos?

Acredito que para quem já é maior de idade e não mora com a família, a situação é um pouquinho mais simples. Não digo fácil, porque nunca é tranquilo descobrir que não temos o apoio das pessoas que amamos. Mas quem já vive por conta própria pode, no mínimo, fazer mais escolhas sobre a própria vida. Pode fazer seus rituais ou participar de grupos de estudo sem problemas, por exemplo.

Já quem é menor de idade sofre mais nesse sentido. Adolescentes se sentem prontos para fazer suas próprias escolhas – e em alguns sentidos, estão prontos mesmo! Mas o mundo só nos reconhece como prontos para tomar decisões importantes dos 18 anos para frente. Dói ver nossas escolhas nas mãos dos outros, especialmente nas mãos de pessoas que escolhem o nosso caminho de forma completamente diferente do que a gente gostaria. Sei o quanto isso pode ser chato. Infelizmente, nessa fase a família tem todo o direito de proibir participações em grupos, leituras, estudos, bem como a “obrigar” a frequentar cultos, missas, etc. Porque nessa fase, a responsabilidade pelas nossas escolhas ainda é da nossa família. Eles são os responsáveis pelo adolescente, e decidem aquilo que, no ponto de vista deles, seria o melhor para o jovem. Claro que isso não quer dizer que é preciso passar por tudo calado. Sempre se pode argumentar e explicar. De preferência com muito respeito e educação, sem se alterar. A orientação que eu daria para quem está nessa situação é mostrar com palavras e atitudes a sua maturidade. Pense sempre nas consequências das suas escolhas. Não só nas consequências que você enfrentará, mas nas que cada um dos envolvidos poderá ter de enfrentar. Sei bem que não é fácil. Mas sei também que é assim que se amadurece, e que é apenas amadurecendo e mostrando aos adultos nossa maturidade que ganhamos a confiança deles para escolher por nós mesmos os nossos caminhos.

Muitas pessoas, mesmo que já tenham mais de 18 anos ainda vivem com suas famílias, seja pelo motivo que for. E a família não pode dizer mais nada sobre como decidimos levar nossa vida porque já temos mais de 18, trabalhamos e pagamos nossas contas, certo? Errado. Viver a própria vida não significa passar por cima dos outros. E, enquanto vivemos na casa de outras pessoas, os donos da casa têm todo o direito de não querer que façamos rituais, celebrações, meditações ou o que for por lá. Claro que também podemos argumentar e explicar (com respeito), mas a decisão sobre isso ser feito na casa sempre caberá aos donos da casa. Mas aos jovens e adultos nessa situação, existem mais alternativas, já que não somos mais responsabilidade de nossas famílias e temos maior liberdade para fazer nossas escolhas.

Cabe aqui diferenciar “aceitação” de “respeito”. Aceitar é uma postura interna. Ninguém pode obrigar ninguém a aceitar nada, pois isso é uma coisa que vai além do racional, envolve as emoções, ideais, lembranças e planos da pessoa. Mas, isso é fato, é preciso existir respeito. E o respeito está em, no mínimo, permitir que o diferente se mostre. Saber conviver e coexistir (não falo só da família respeitar os caminhos dos jovens, mas também dos jovens respeitarem os caminhos que pais, irmãos, etc. escolheram para si). Pode não ser o sonho de alguns pais que seu filho seja bruxo. Mas a regrinha social chamada respeito diz que, no mínimo, eles precisam ouvir o que o filho tem a dizer sobre o assunto (com calma e em tom de voz normal, por caridade!). Uma vez dito, eles tomam a decisão que acharem conveniente, as escolhas dos outros são problema dos outros e não nossos! Talvez proíbam celebrações e rituais, mas não podem proibir o pensamento. Podem proibir leituras e estudos, mas ninguém nunca será capaz de te proibir de acreditar. Nada nem ninguém pode nos proibir de sentir o que sentimos e de perceber o que percebemos, e vivenciar um caminho espiritual passa principalmente por aí. A magia está dentro de cada um. E lá dentro, sempre seremos livres[bb].

Bia F. Carunchio
Psicóloga e Neuropsicóloga
Mestre em Ciências da Religião pela PUC-SP
E-mail: [email protected]

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A Bia é uma bruxa que caiu da vassoura e veio direto pra mim! Eu estava conhecendo páginas no Facebook quando me deparei com o trabalho dela, e depois fiquei ainda mais encantada com o Blog A Rosa dos Ventos. Esse artigo sobre a Família era uma necessidade que eu certamente não saberia suprir, portanto, gostaria de deixar claro que fiquei muito feliz por esta ótima colaboração e certeza que ganhei mais uma amiga!

Obrigada Bia,

Rosea Bellator

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