Escrito por Karina Werneck
“És face da Deusa, Mulher.
Em seu útero pulsa o sagrado
Cuide-o, cuide de ti,
Cuide de sua irmã
Não deixe que ela caia nas armadilhas do amor
E se anule dentro de um relacionamento.
És mãe, Mulher, porque cria
Não destrua seus filhos
Sejam eles de carne, ossos, papéis, tintas
Sejam seus filhos escritos, desenhados, cantados
Não destrua a sua Arte, Mulher
Ela também te é.
Assim como Mãe, também és filha, Mulher
Cumpra esse papel tão bem quanto puder
Sabendo que não possui a perfeição
Mas buscando sempre abraçar a sabedoria que vem dos ancestrais.
Mulher, esteja sempre alerta
Para quem escolhe colocar em sua vida
Há muitos dos que cantam louvores, porém só semeiam pragas.
Mulher, dirão que és louca por ouvir sua intuição: não acredite neles.
Dirão também que deve calar e manter-se presa
Cala-te apenas quando quiser, mas clame o seu âmago: bradar confusão atrai mais confusão.
Não prenda seu corpo bonito, não prenda sua bela alma
Porque, não te esqueças: és face da Deusa
E para o Seu Útero Sagrado irá voltar, mais brilhante e mais feiticeira do que nunca
Quando a jornada nesse plano findar”
Tenho uma aparente afinidade para com mulheres, e talvez por atrair o que transmito, muitas me procuram com sintomas parecidos com os meus, sintomas esses que com um pouquinho de reflexão percebo serem generalizados.
PRIMEIRO SINTOMA
A maior parte das mulheres está, sim, se sentindo meio mal. Isso está acontecendo há mais ou menos de três anos atrás até atualmente. Atinge algumas em proporções maiores e outras levemente, mas o caso é que vejo praticamente todas sendo atingidas de alguma forma. De forma que tenho procurado estar mais próxima do caminho espiritual, percebi que precisamos deixar uma coisa bem clara, e aprender a nos convencer do fato: se você sente, tem mais alguém sentindo com você. Nunca sentimos sozinha. “Somos todos um”, e a partir da aceitação dessa frase que já está até meio batida, muita coisa se explica.
Olhe para dentro de você: quantas vezes nos últimos meses se sentiu vazia, perdida, no meio do turbilhão do caos, em dúvida, abandonada? Falo por mim e pelas mulheres que conheço: me senti MUITAS vezes dessa forma. É como se quando fôssemos colocar a última carta que falta para deixar pronto o castelo, tudo caísse, desmoronamento iminente. Isso pode se dar de diversas formas: aquela culpa que achamos ter curado volta de maneira súbita, ou uma pessoa surge do passado para acertar contas que pensamos já terem sido pagas. Amigos com atitudes não tão amigáveis assim. No plano físico, talvez tenhamos tido algumas surpresas em relação à profissão, aos estudos. É como se o Senhor Destino aprontasse uma das suas e dissesse: Aha, por essa você não esperava, mocinha!
E geralmente nós realmente não esperávamos, pelo menos não em nível consciente.
Qualquer transição é difícil, até mesmo as boas. Pensemos dessa forma: Amanda sempre quis morar na praia pois se sente mais viva perto do mar, e por um golpe de sorte, Amanda ganha uma casa na praia, numa cidade que ainda não conhece mas sabe que irá se adaptar. O processo para que as coisas aconteçam são: arrumar toooodas as coisas de sua atual casa para se mudar. A nova casa na praia é longe, então terá que ter todos os gerenciamentos de logística. Amanda precisará avisar em seu emprego/escola/faculdade que está se mudando, geralmente essas coisas envolvem um mínimo de burocracia. Amanda também terá de avisar amigos, parceiras ou parceiros, família, rede de contatos. Além dessas pequenas coisas para serem resolvidas, Amanda ainda ficará à mercê Das Coisas Que Acontecem, porque parece que nesse plano que vivemos SEMPRE alguma coisa acontece para termos de resolver.
No fim, depois de muito estresse e tensão, Amanda consegue se acomodar em sua nova casa na praia. Valeu a pena? Sim, com certeza! Mas transitar a vida entre um ponto e outro gerou o desgaste.
Agora pensemos numa proporção um pouco maior: numa transição planetária, mudamos os níveis vibracionais e de percepção dos seres que habitam a Terra de um ponto X no espaço para um ponto Y no espaço. Se a mudança física de um indivíduo já representa atrito com outras formas de existências independentes (burocracia, transportes, etc), imagine só quanto atrito gera uma mudança no nível energético de todo o planeta!
Façamos o caminho do grande para o pequeno: visualize o Universo em toda a sua maravilhosa e inexplicável imensidão. Você vive em algum lugar ali dentro, não importa muito onde (ainda), mas você sabe que faz parte daquilo, que é um ente irmão dentre todas as outras coisas que coexistem no meio do Cosmos. Olhando assim, por cima, você vê um pontinho azul, bonito, emitindo muita vibração: é a Terra, e você descobre que está ali dentro. Dando um zoom nesse filme, vemos que tem muita gente nesse planeta, e todas parecem ter alguma ligação, e de alguma forma bizarra, sendo que o que um faz influencia na existência do outro. Olhando esse mundaréu de gente, parece até que a frase tão disseminada “O mundo é muito pequeno!” não faz o menor sentido. Mas pensemos novamente na colocação desse planeta perante o Universo e veremos que não é tão grande assim, só é muito concentrado de… pessoas. E energias. Aí Alguém Lá Fora percebeu que havia um certo caos no Planeta, no sentido em que os seres humanos que ali habitavam não percebiam que eles mesmos estavam destruindo sua até então única casa. E esse Alguém Lá Fora achou uma boa ideia dar um pouquinho mais de Consciência Cósmica para esses seres que haviam esquecido de sua luz.
E então, toda essa agitação energética de toda essa gente seria mudada, numa transição que pareceria lenta perante a vida humana, porém rápida perante o Cosmos- lembremos, tudo é relativo. Aí temos o processo da transição: o desgaste para que tudo continue caminhando apesar das mudanças, o cuidado do Todo para não deixar a peteca cair.
Pois bem, e você? Onde você fica durante tudo isso? ‘Tá vendo todo aquele caos energético ali, naquele monte de pessoas? Sim, você está ali no meio, recebendo e doando energia de forma intensa.
Todo mundo que conhece alguém mais velho – e às vezes nem precisa ser tão velho assim- já ouviu sentenças que começam ou terminam com: “No meu tempo não era assim”. É, as coisas estão diferentes, as coisas estão mudando. Não é que as pessoas estão piores, não há mais roubos e mais traições. A diferença para toda a sujeira que vemos hoje comparada com o passado é que hoje temos a luz. Se você entra num cômodo escuro e bagunçado, só vai perceber a bagunça se acender uma lâmpada, mas se não, o cômodo continuaria parecendo estar em ordem. Então não necessariamente as coisas hoje em dia são piores, nós só temos mais recursos para enxergar esses fatos. E isso só está acontecendo porque precisamos tirar as coisas a limpo.
A transição é maravilhosa, mas ela não é simples. Ouvi de uma querida que só ia doer para os teimosos, e discordo prontamente, porque acho que sempre vai doer em algum âmbito para todo mundo. Mas também posso estar falando isso por ser uma pessoa absolutamente teimosa e estar sofrendo com isso.
Resumo da ópera: a transição afeta as nossas vidas de maneira não muito boa na maior parte das vezes, mas temos que ter em mente que toda mudança faz uma rasura em tudo o que já foi antes, e que é normal doer um pouco. Ponto dois: não estamos passando por isso sozinhas, no quesito de estar sentindo coisas que ninguém mais está sentindo. Todos estão sentindo, e não está sendo muito fácil num nível geral. Terceiro: tendo consciência da dimensão do negócio, podemos compreender melhor se o que se passa dentro de nós faz parte do indivíduo ou do coletivo. Às vezes naquele dia em que estamos meio para baixo sem motivo aparente, pode ser só a transmutação de energia. Ou naquele dia em que estamos “pra cima” demais.
Logo, É NORMAL você se sentir cansada, arruinada, perdida. É NORMAL que as coisas estejam num fluxo tão rápido de acontecimentos que seja difícil para a mente acompanhar. É NORMAL que na semana passada você seja uma pessoa e hoje já seja outra mulher, completamente diferente.
SEGUNDO SINTOMA
A insatisfação com a velha estrutura.
Juro que não sei se isso se dá pelo meio em que estou, ou mesmo se é porque eu atraio o que transmito, mas a procura pelo Sagrado Feminino está cada dia mais forte e escancarada.
A figura Mulher sofreu uma enorme, gigante, colossal perda nos últimos milênios. O sistema patriarcal podou, aniquilou e quis morta toda a mulher que ousasse viver a sua verdade. A imposição de condições para a ala feminina ergue bandeirinha até hoje, e é muito recente o reconhecimento disso. Até pouco tempo atrás, ninguém queria parecer com uma mulher, nem mesmo as mulheres. Aí sempre surgia aquele papo de que as amizades são mais confiáveis entre homens ou entre homens e mulheres, ou aquela onde dizem que “você não é como as outras mulheres, você é diferente”. Menino não pode usar rosinha porque vai ficar afeminado. Ah, você vai mal em matemática? É porque o lado esquerdo do cérebro na mulher não funciona tão bem quanto no homem.
Não há melhor exemplo do que o da nossa história de vida, então darei o meu: eu odiava parecer delicada ou frágil, por essas serem características estereotipadamente atribuídas às meninas. Quando os meus seios começaram a crescer, eu os odiava profundamente, a ponto de criar uma técnica de andar meio corcunda para que eles não aparecessem através da camiseta. Me sentia profundamente ofendida se me davam algo cor de rosa, e a menarca foi uma tragédia em minha vida, pois selava uma afirmação que eu jamais gostaria de encarar: eu era mulher. Inconscientemente, sempre tentei me espelhar mais em meu pai do que em minha mãe, porque achava que a inteligência dos homens era muito superior.
Mas não pense que num belo dia alguém chegou e me ensinou tudo isso. Ninguém nunca me falou sobre essas coisas, foram conclusões que fui tirando sozinha durante o meu crescimento. Cresci num lugar onde nada faltou, mas nada sobrou, e estudei no ensino público brasileiro. Minha família era de um catolicismo meia-boca. Saí cedo de casa por causa de um casamento prematuro, algo bastante normal no meio em que fui criada. Até pouco tempo atrás, eu nunca tinha reparado que menstruava! Só dava graças aos deuses por não estar grávida, mas em momento algum me questionei sobre a minha menstruação.
Mas o que tudo isso tem a ver com a transição? Antes, eu era insatisfeita comigo mesma, e tudo o que vinha de mim ou de qualquer outra mulher me parecia errado. Até o brilhante momento em que exclamei “eureka!” e vi que na verdade não era eu quem estava errada, mas o sistema no qual eu estava inserida. Se eu senti isso e tive esse insight, não senti sozinha e não passei da fase do ódio às mulheres para o questionamento desse ódio sozinha. Tenho certeza que levei mais mulheres comigo.
O feminismo tem um papel muito importante para a retomada do poder da mulher sobre ela mesma, mas não irei me ater muito aos movimentos de caráter social e focarei mais no espiritual-individual.
Ter um deus homem ajudou muito para que eu odiasse os meus instintos e o meu corpo. E eu odiava deus, brigava com ele e depois morria de medo de ser punida. Quando me masturbei pela primeira vez, com uns onze anos, senti como se esse deus estivesse ali, me espionando, pronto para ligar as sirenes e me jogar no fogo do inferno. Foi péssimo. Não sei qual foi o ponto exatamente em que revi meus conceitos de vida e o que significava na verdade o ser Mulher, mas a mudança aconteceu e foi bem grande.
Cada vez mais mulheres procuram a sua espiritualidade em correntes alternativas, como o Sagrado Feminino, o Xamanismo e o vertentes neo-pagãs. As mulheres estão procurando voltar para o colo da Deusa, procurando seus reflexos divinos na Grande Mãe; lentamente, deixamos o deus cristão de lado, e se ainda o temos como base, o vemos com outros olhos. Ficamos distantes tempos demais da Deusa, então é natural o movimento de afastamento do Deus, para que depois o reencontremos, com menos culpa e menos medo.
Na transição, as “contas são acertadas”: as mulheres estão vendo o que deixaram para trás com o tempo, e procurando resgatar suas raízes, o movimento do retorno para dentro de si mesmas e para o útero de amor da Grande Mãe. O que temos já não nos satisfaz mais. Descobrimos que não é só a estética que traz a autoestima, mas também questionamos essa estética que nos foi imposta. Não queremos ter nossos filhos, sejam eles reais, ou criações artísticas, ou qualquer coisa que surge do mais íntimo de nosso ser, não queremos mais parir sob uma luz cirúrgica e entubar nossas crianças num local frio e ríspido.
No meio de toda essa confusão e transmutação energética, surge uma flor vermelha, que vai cada vez brilhando mais e ficando mais forte. Essa flor nos traz a lembrança da La que Sabe, da Mulher Selvagem, da que não obedece e não quer que a obedeçam. Inconscientemente rumamos todas para o propósito do equilíbrio, instaurando a nossa restauração do Feminino Sagrado. Caminhamos a fim de (re)aprendermos a nos respeitar, e não o respeito que diz o Sistema, aquele outro respeito: aquele que faz nós não abaixarmos nossa voz quando na verdade queremos erguê- la.
Uma retomada geral: estamos passando por uma transição planetária, para melhoramentos energéticos vibracionais. Como toda mudança, essa machuca um pouquinho. Se você está se sentindo mal, não está sozinha, assim como se estiver se sentindo bem. Nós mulheres já não cabemos mais nessas velhas estruturas, e com atitudes pequenas que talvez nem nos demos conta, estamos derrubando tudo para a construção de algo novo.
Você está fazendo muito mais pelo planeta do que imagina.
Autor: Karina Werneck
E-mail: [email protected]
Blog: Crias da Terra
Atenção: A reprodução parcial ou total deste texto é proibida e protegida pela lei do direito autoral nº 9610 de 19 de fevereiro de 1998. Proíbe a reprodução ou divulgação com fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na internet, sem prévia consulta e aprovação do autor.
Quer ver outros posts? Clique nos links a seguir: