Mais um texto da maravilhosa Ellen Gomes, autora de Filhas do Corvo!
Como uma Senhora da Guerra, temos na figura da deusa celta Morrigan aquela que se levanta para defender seu próprio povo. Em seus mitos, provenientes da mitologia gaélica irlandesa, temos sua figura inspirando temor e coragem. Terrível contra os inimigos dos Tuatha Dé Danann, sua tribo divina, e instigadora para os guerreiros que protege, ela personifica a guerra em seu aspecto mais marcante, o da luta em prol da justiça e da soberania.
Aliás, muito falamos de soberania quando falamos em Morrigan, mas poucas vezes a profundidade e amplitude deste termo é de fato mostrada, não é mesmo? Grande parte das vezes focamos apenas em sua camada individual, o que claramente não é errado. Devemos sim lutar pela nossa soberania pessoal. Pela nossa própria independência. Agora, muitas vezes o social pesa em nossos esforços pessoais. E de uma forma que não podemos deixar de notar que só poderemos de fato nos considerarmos livres, independentes, se formos além de nossas camadas pessoais. Se nos levantarmos contra as correntes de todos os tipos de opressão que polui e envenena nossa sociedade.
Nossas dificuldades, dramas, tristezas e perdas estão embebidas de contexto social, muitas vezes não sendo de forma alguma questão apenas de esforço pessoal as ultrapassarmos, mas sim de luta coletiva. Quando não existe justiça em uma sociedade contra seu próprio povo este deve se levantar e reclamar seu próprio poder, inalienável e indivisível, através da vontade de todos. Esta é a denominada soberania popular, que é prevista aqui em terras brasileiras na Constituição da República Federativa do Brasil, em seu art. 14. Todo o poder, em regimes democráticos, deve ser exercido pelo e para o povo. Uma das formas que possuímos para lutar por esta soberania são, além do voto, o direito ao protesto, que nos é garantido pela combinação de três direitos listados no artigo 5 da Constituição Federal, sendo eles: a Liberdade de Expressão, a Liberdade de Reunião e a Liberdade de Associação. Podemos e devemos lutar pela justiça, pelo bem de todos.
Aqui coloco um pequeno rito que pode ser realizado ou na noite anterior ou horas antes de nos unirmos aos mais diversos tipos de protestos. Que Morrigan, em toda sua fúria e tenacidade, esteja sempre ao lado daqueles que lutam! Heya!
O Rito de Proteção
Tenha em mãos:
· Uma vela branca
· Uma vela preta
· Um recipiente que suporte fogo
· Alecrim seco
· Uma pequena oferenda a Morrigan (pode ser um cálice de vinho tinto, por exemplo)
Coloque ambas velas em suportes seguros, a branca na direção leste e a preta na direção oeste, uma do lado da outra. Se você possui alguma representação de Morrigan, seja uma estátua, um desenho, ou outros, pode a colocar entre as velas, como na minha foto acima. Coloque também sua oferta próxima, e o recipiente que você escolheu com o alecrim dentro dele, diante das velas.
Respire fundo, procure acalmar sua mente e se concentrar no que está prestes a fazer. Com a ajuda de um pouquinho de álcool incendeie as ervas. Com cuidado, coloque suas mãos perto do fogo, e diga:
“Nas chamas que aqui se erguem, na energia do alecrim que por elas está sendo liberada, ergo meus pedidos a Morrigan, Senhora da Guerra e das Batalhas. Venha, com sua fúria e poder, e ouça minha voz! Pois hoje eu me ergo a favor do meu povo, a favor daqueles que não encontram o consolo da paz, nem a garantia da justiça. Marcho, ao lado daqueles que lutam, ao lado daqueles que fazem seu clamor ser reconhecido! E por isso peço sua benção, proteção e guia! Que a força dos que se levantam em prol de suas vidas seja mais forte que o braço repressor que pode tentar intimidação e iniquidade trazer!”
Mexa as ervas, coloque um pouco mais de álcool se precisar, mas deixe o fogo bem alto nesta hora. Agora, converse com Morrigan. Explique em qual manifestação irá, qual é o seu propósito, como as coisas estão, quais perigos você e os outros manifestantes podem enfrentar, o que você teme, onde a proteção será mais necessária. Com cuidado, acenda a vela branca no fogo que ainda consome o alecrim, dizendo:
“Nesta vela acendo alto a proteção e a benção de Morrigan sobre mim e sobre todos aqueles que ao meu lado marcham. Que de nós o perigo e o dano se desviem. E que, se uma armadilha contra nós estiver se formando, que possamos sentir a hora exata de nos salvaguardar. Seus corvos voam alto, tudo enxergam, e em nossos corações cantarão as estratégias de sobrevivência mais oportunas! Heya, Morrigan, heya!”
Respire fundo novamente. Imagine que você e todos os demais conseguindo saber a hora de avançar, a hora de lutar, a hora de recuar e a hora de se proteger. Imagine todos conseguindo voltar para casa sãos e salvos no final do dia. Imagine tudo dando certo, não importando o que possa sobrevir. Se o fogo, nas ervas, começar a apagar, não se preocupe. Ele já pode apagar por conta própria. Acenda neste momento a vela negra, e diga:
“Agora, nesta vela, eu chamo por Morrigan como o Corvo de Carniça. Aquela que anuncia, sanguinária e implacável, a queda e a morte de seus inimigos. Que seja minguada e destruída a força de todos aqueles que hoje se levantarem para o mal causar. Para oprimir, para violentar e para torturar. Que não exista paz ou sucesso para o déspota e para o injusto. Grande Guerreira, vá diante dos puros de coração, daqueles que lutam e se indignam de forma verdadeira e honesta! E que sua espada ache o iníquo e o perverso, impondo-lhes o dobro da dor que aos inocentes desejam causar!”
Faça sua oferta. Converse o que mais precisar com a deusa. Seja claro e honesto. Deixe as velas queimarem até o fim e lute!
Obs: É comum que a vela preta chore bastante, então não se surpreenda se isso acontecer. É possível adaptar levemente as invocações para enviar proteção a pessoas ou grupos que irão se manifestar em dias que você não possa se juntar a eles. Mas tenha cuidado. Prefira sempre fazer esse ritual quando você de fato for se juntar a causas. Use-o com sabedoria e nunca deixe de lado as proteções físicas para contar apenas com as espirituais. Como uma grande estrategista, Morrigan preza por aqueles que fazem suas próprias partes da forma mais coerente e inteligente o possível.
Até a próxima!
Autor: Ellen Gomes
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