Respire fundo, aqui vai uma notícia bombástica: O Outono dá início a morte da natureza. É isso mesmo pessoal, e ainda assim consegue ser uma estação linda com suas cores alaranjadas nas árvores, não é mesmo? O Outono tem uma história também emocionante na roda do ano, conhece? Vamos vê-la na meditação de hoje.
Você pode fazer essa meditação onde quiser, eu daria preferência apenas para um local mais aconchegante.
Está aconchegado? Feche os olhos devagar…
Respire mais lentamente…
Deixe as sombras envolverem você…
Mergulhe dentro da sua alma e no seu subconsciente…
Está vendo um vasto campo de trigo? Está dourado! Você começa a ouvir vozes de pessoas trabalhando, falando. Caminhando entre o trigo, logo você encontra essas pessoas. São pessoas comuns, arando a terra, trabalhando na última colheita. Ela falam o tempo todo disso, estão preocupadas…
A noite vem chegando, as pessoas largam seus instrumentos de trabalho e vão para a aldeia. Lá, uma mulher acabou de acender a fogueira, e tem um velhinho sentado à frente dela. Ele sente muito frio, a mulher também, mas ela parece infinitamente melhor do que ele.
As pessoas se aconchegam ao redor da fogueira, mulheres mais velhas trazem sopas bem quentinhas em caldeirões e distribuem em pequenas cumbucas. Todos estão famintos, dá para ver o medo em seus olhos, mas ninguém comenta nada. A figura principal é o idoso que está quieto de frente à fogueira. De repente ele levanta, com a ajuda da mulher, e começa a falar.
Ele fala da morte dele. Imediatamente todos começam a chorar. Pedem para que ele pare, que isso ainda demorará anos, mas ele não para. Ele diz que a morte dele está prevista nos livros da vida, no universo, e que é necessária para que sua mulher volte a ser jovem assim como a natureza. Sim, ele é o Deus Ancião e sua esposa é a Deusa Anciã.
Todos ficam com medo, não entendem o que significa a morte, nunca presenciaram! Não é fácil despedir-se do deus tão idoso, um pai benevolente que lhes ensinou tudo que sabem, que lhes inspirou e deu força. Mesmo a deusa, frágil com seus cabelos brancos, tem lágrimas nos olhos – pelo povo. Ela sente que ele vai embora. Ela também vai, mas de uma forma bem menos dolorosa e não totalmente física. A deusa dará a luz ao deus e à si mesma, tornando-se jovem inocente novamente. A vida precisa recomeçar.
Hoje não tem festa. Hoje o povo tem medo e vai dormir calado.
Nesta mesma noite todos têm um sonho em comum: sonharam que estavam trabalhando a terra quando ela endureceu ainda mais! O deus ia embora e deixava a deusa sozinha, no meio da mata.
Acordaram ao mesmo tempo e saíram de suas casas.
Qual não é a surpresa deles quando vêem as árvores amarelas, a natureza morrendo e nem um sinal dos deuses?
Primeiro choram, com medo. Depois de uns 2 dias já voltam ao trabalho… e passam a prestar mais atenção em si mesmo, aprendem a depender de seu próprio trabalho, aprendem a preservar de tudo, aprendem a agradecer uns aos outros, pois já não tem seus anciões ali para dizer o certo e o errado o tempo todo.
A vida segue e cada dia mais eles entendem e sentem: o deus vai morrer sozinho na mata, em algum lugar longe de todos. A deusa tomará uma nova forma, assim que der a luz ao menino sol. E os deuses voltarão um dia, quando for a hora. E a vida voltará. E a fartura será como antes, mas …. mas primeiro precisam dessa fase: precisam ir trabalhando a terra, trabalhando o amor, a fraternidade, cumplicidade, trabalhando a paciência uns com os outros, assim como os deuses eram com eles…
Já pode voltar a deixar as sombras te envolverem. Volte à superfície da mente, da alma. Abra os olhos. Se ficou emocionado, se chorou ou sentiu medo como as pessoas da aldeia, não tenha vergonha, pode chorar. Chorar também demonstra amor.
O Outono é a preparação da morte e da vida, da vida e da morte, sem fim.
Até a próxima!
Rosea Bellator
E-mail: [email protected]
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