” Eu sou Hospes Luna “

eu sou hospes luna - foto de helga maia / hospes luna

I

Sou branca e sou preta
E colorida borboleta
Não importa que você me enxergue
Com olhos de iceberg
Sou magma que explode da terra
Meu amor próprio ninguém emperra
Faço feitiços de autoestima
E brinco de me escrever
Sou poema, sou menina
Mas você não sabe me ler
Sou mulher, mãe e amiga
Cozinheira, curandeira e parteira[bb]
Curo dores de barriga
Azia, chulé e frieira
Não tenha medo de mim
Pois eu já nasci assim
Muito embora às vezes minta
Eu escolho a cor da tinta
Pra pintar a minha vida
O meu pacto é com a beleza
Bato na madeira pra tristeza
Estou sempre reunida
Com as deusas que habitam em mim
Caso não goste do grego
Fique então com seu latim!

II

Nas cartas de um tarô
Procurei por meu amor
A cigana me olhou
Meu coração bateu mais forte[bb]
Senti o frio da morte
Era a esperança que morria
De encontrar o que eu queria
Ela entrou em mim, bem fundo
E abraçou todo o meu mundo
E disse que o amor se esconde
Mas que não se sabe onde
E que só se vai saber
Quando nós soubermos ler
O que os deuses escreveram
Lá no céu
Entre as estrelas…
Pois o amor de mais beleza
Sempre chega de surpresa
É um eterno presente
Que se disfarça de futuro
Só pra gente descer do muro!

III

Há dias em que não estamos
Não somos, não ficamos
Há dias em que não encontramos
As peças do quebra cabeças
Há dias em que elas nem se encaixam
E que sentimos frio nos braços cálidos do amor[bb]
Há dias em que minguamos
Escurecemos…
Há dias em que somos novidade
Pra nós mesmos, pros deuses
De lua pra Lua
A natureza que habita em nós
É selvagem e livre
Experimenta dias e noites
Outonos e primaveras
É Indomável e inconstante
Bela e misteriosa…
É como um rio
Que precisa secar às vezes
Pra poder fazer chover…
Há dias em que somos nós mesmos
Sem nem nos darmos conta
De quanta beleza há nisso!

IV

Somos fogo, somos água
Sol e Lua
Oceano e chuva
Cachoeira e arco-íris
Sorrisos e manias
Sussurros de dores e contentamento[bb]
Inconstantes, teimamos em voar
Paradoxais
Mortais
Imortais
Deuses
Demônios
Alma
Desejos
Sonhos
Futilidades
Espinhos e flores
Do meio, frutos que amadurecem
Ou optam por cair ainda verdes
E deitar na terra
Pra matar a sede dos vermes
Que também podem sobreviver
Da água da emoção
Pra equilibrar o ecossistema
Somos estranhos estranhamente iguais
Buscando amar e ser amados
Ou ousar viver num mundo de ilusões
Somos pura magia dos deuses
Querendo brincar de realidade…

V

Caso fosse um filtro dos sonhos
Eu seria um filtro furado
Sonhos são reagentes mágicos
Que às vezes se misturam
Alquimicamente
Quando a magia de amar perfuma as almas de coragem
De ousadia romântica
E desejo virginal
E planta flores
Não pra colher os frutos
Ou se sentar à sombra
Mas simplesmente pra perfumar
Pra exalar o oxigênio da vida
Pra colorir
Pra abstrair concretamente
E metrificar e rimar todos os versos[bb]
Encaixando-os como luva nos poemas realistas-naturalistas
E guerrear por paz
Justificando as estórias
Dos contos de fadas
E também as histórias
Das donas de casa
Que não podiam votar
E hoje governam nações
Que agora nascem em quartos
Onde não se usam mais cortinas nas janelas
E de corpos que se pintam
Com tatuagens e cabelos coloridos
Sem ter medo de fogueiras
Nem pavor de guilhotinas
Hoje todos podemos e devemos ousar sonhar
Sonhos genuinamente nossos
Que não tem mais que ser filtrados
Pra arrastar nenhum resíduo paternalista
Nem serem submetidos a análises qualitativas
De nenhum puritanismo hipócrita vão e passageiro!

Hospes Luna

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